quarta-feira, 30 de março de 2011

Caracterização de D. João V

Amante dos prazeres humanos, a figura real é construída através do olhar crítico do narrador, de forma multifacetada:
É o devoto fanático que submete um país inteiro ao cumprimento de uma promessa pessoal (a construção do convento, de modo a garantir a sucessão) e que assiste aos autos-de-fé;
É o marido que não evidencia qualquer sentimento amoroso pela rainha, apresentando nesta relação uma faceta quase animalesca, enfatizada pela utilização de vocábulos que remetem para esta ideia (como a forma verbal" emprenhou" e o adjectivo "cobridor");
É o megalómano que desvia as riquezas nacionais para manter uma corte dominada pelo luxo, pela corrupção e pelo excesso;
É o rei vaidoso que se equipara o Deus nas suas relações com as religiosas;
É o curioso que se interessa pelas invenções do padre Bartolomeu de Gusmão;
É o esteta que convida Domenico Scarlatti a permanecer em Portugal;
É o homem que teme a morte e que antecipa a sua imortalidade, através da sagração do convento no dia do seu quadragésimo primeiro aniversário.


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