quarta-feira, 4 de maio de 2011

Capitulo VI

Este capítulo começa com Baltasar Sete-Sóis a realçar a importância do pão para os portugueses e o facto dos estrangeiros que vivem em Portugal estarem fartos de comer pão. Assim eles produziram e trouxeram dos seus países os seus alimentos e vendiam-nos muito mais caros sendo difícil aos portugueses comprarem-nos. Depois Baltasar conta a história caricata de uma frota francesa; quando ela chegou a Portugal, os portugueses pensavam que vinha invadir o nosso país, afinal tratava-se de um carregamento de bacalhau.
No decorrer do capítulo Baltasar fala com o padre Bartolomeu Lourenço, Bartolomeu diz sonhar que um dia conseguirá voar e disse a Baltasar que o Homem primeiro tropeça, depois anda, depois corre e um dia voará. Baltasar dá a sua opinião argumentando que para o homem voar terá que nascer com asas. O padre Bartolomeu alerta Baltasar para o facto de ser um pecado ele dormir com Blimunda sem serem casados. Depois Baltasar e Bartolomeu vão para S. Sebastião da Pedreira para verem a máquina que Bartolomeu inventou para um dia poder voar e à qual chamou passarola. Quando chegaram, Bartolomeu mostrou o desenho da passarola a Baltasar explicando-lhe como é que tencionava fazê-Ia voar. Após a explicação, Bartolomeu pede-lhe para o ajudar na construção da passarola. Inicialmente Baltasar mostra-se receoso em aceitar a proposta, mas depois de Bartolomeu dizer que o facto de Baltasar ser maneta não tem importância, então este aceita o desafio.

A linguagem e o estilo

São utilizadas numerosas figuras de estilo como metáforas, comparações, antíteses, hipérboles, etc.Mas destaca-se a ironia através da qual o narrador faz criticas sobretudo ao rei e ao clero. Há também ironia nas discrição do auto-de-fé ou das procissões. Os registos de língua utilizados variam entre a linguagem cuidada, complexa, literária e a linguagem familiar e até popular ( adequada as personagens do povo).

As frases são extensas, próximas do discurso oral ou traduzindo o interior das personagens.

Há muitas enumerações, polissindentos  e paralelismos.

A pontuação e o aspecto mais invulgar na obra de Saramago. São apenas utilizadas o ponto final e a virgula. Não a pontos de interrogação, nem de exclamação e os diálogos não são assinalados com dois pontos e travessão.

A pontuação (ou a sua ausência) é um dos contributos mais importantes para a originalidade da obra.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A dimensão simbólica

Personagens Simbólicas 

Baltasar e Blimunda - personagens diferentes ( ele fisicamente; ela pelos poderes espirituais).
Ele e o demiurgo que cria a passarola.
A sua relação com Belimunda é baseada no silencio, no consentimento mútuo e implícito  de ambos numa vida em comum. Juntos completam-se, o sol / a lua, o dia / a noite, a luz / a sombra, a união dos opostos, o universo divino e o universo humano.

Padre Bartolomeu Lourenço - é um ser fragmentário, dividido entre a religião e a alquimia. Simboliza a inspiração humana que esta subjacente ao voo da passarola, através das "vontades", substituindo o dogmatismo religioso pelo humanismo.

Domenico Scarlatti - Representa o transcendente que advém da música e que, ligado aos poderes de Belimunda, instaura o domínio do maravilhoso na obra.
Simboliza a ascensão do homem através da música.

Elementos Simbólicos.

Sete - É a soma dos pontos cardeais com a trindade divina; representa a totalidade do universo em movimento.
(Sete-sóis; sete-luas; Belimunda encontra Baltazar na sétima vez em que passa por Lisboa).

Nove - Representa a gestação, a renovação e o renacimento (Blimunda procura Baltazar durante nove dias)

Passarola - é o ele de ligação entre o céu e a terra, representa a alma humana que ascende aos céus. Simboliza a libertação do espírito e a personagem a um outro estado de existência. 

Narrador

Presença

Em "Memorial  do Convento" o narrador geralmente não é participante ou é heterodiegético , isto é, a narração é feita em 3º pessoa. Por vezes, surge um narrador homodiegético, com narração com narração, quer na 1º pessoa do singular, quer na 1º pessoa do plural (ex: pagina. 35 onde uma personagem da história revela as suas próprias vivências. 

Focalização

Omnisciente - (é a predominante; o narrador conhece profundamente factos e personagens).

Interna - (adopta a perspectiva de uma personagem ao contar a historia; por exemplo quando Sebastiana  Maria de Jesus relata a sua situação no auto-de-fé).

Interventiva - corresponde aos comentários do narrador, a sua opinião sobre os factos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O tempo

Tempo da história

1711- D. João V ainda não fizera 22 anos.
1717- bênção da 1º pedra do Convento de Mafra.
1730- 41º aniversario do rei; sagração do convento.
1739- Blimunda vê Baltasar a ser queimado, em Lisboa, num auto-de-fé; fim da acção.

A passagem do tempo é sugerida pelas transformações sofridas pelas personagens, por alguns espaços e objectivos ao longo da obra.

 O tempo discurso
    O narrador não respeita a ordem cronológica dos acontecimentos, por isso utiliza analepses ( recuos no tempo) e prolepses (avanços no tempo).

Espaço social

    -Procissão da Quaresma ( penitência física e mortificação da alma após os excessos de Entrudo; crítica às falsas manifestações de fé).
    -Autos-de-fé( perseguição de judeus, cristãos-novos e acusados de bruxaria pela inquisição; para o povo é um dia de festa; as mulheres exibem as toilette e entregam-se a jogos de sedução; é num auto-de-fé que Blimunda e Baltazar se conhecem.
    -Tourada ( tortura dos touros e desinibição dos assistentes)
    -Procissão do corpo de Deus ( crítica á forma como as pessoas vivem a religião; estas procissões eram momentos de histeria colectiva de pessoas que se batem a si próprias e aos outros).

Lisboa é um espaço caótico, dominado por rituais religiosos. A capital simboliza o espaço infecto, alimentado pelo ódio( aos judeus e cristãos-novos), pela corrupção da Igreja, pelo poder repressivo e hipócrita do Santo Oficio e pelo poder autociatico do rei.

    -O trabalho no convento (Mafra é o espaço de servidão desumana a que D. João V sujeitou todos os seus súbditos para alimentar a sua vaidade).
    - A miséria no Alentejo.
   - O cortejo real.

O espaço físico

      Lisboa:
         Terreiro do paço-local onde Baltasar trabalha num açougue,após a sua chegada a Lisboa.
         Rossio-espaço onde decorre os autos-de-fé
         S.Sebastião da Pedreira-espaço onde é construída a passarola

Mafra-local da construção do convento;local onde vivem os trabalhadores em péssimas condições.
Outros espaços: Pêro Pinheiro, Serra do Barregudo, Monte junto, Torres Vedras, Alentejo (espaço de miséria, de mendigos e de salteadores; também é o espaço por onde passa o cortejo para a casamento dos príncipes).
                        
Terreiro do Paço

Rossio

Convento de Mafra
 

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Caracterização do Povo

O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento é o povo trabalhador. Espoliado, rude, violento, o povo atravessa toda a narrativa, numa construção de figuras que, embora corporizadas por Baltasar e Blimunda, tipificam a massa colectiva e anónima que construiu, de facto, o convento.
A crítica e o olhar mordaz do narrador enfatizam a escravidão a que foram sujeitos quarenta mil portugueses, para alimentar o sonho de um rei megalómano ao qual se atribui a edificação do Convento de Mafra.
 A necessidade de individualizar personagens que representam a força motriz que erigiu o palácio - convento, sob um regime opressivo, é a verdadeira elegia de Saramago para todos aqueles que, embora ficcionais, traduzem a essência de ser português.

Caracterização do Domenico Scarlatti

Scarlatti representa a arte que, aliada ao sonho, permite a cura de Blimunda e possibilita a conclusão e o voo da passarola.

Caracterização do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão representa as novas ideias que causavam estranheza na inculta sociedade portuguesa.
Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmão tornou-se um alvo apetecido da chacota da corte e da Inquisição, apesar da protecção real.
Homem curioso e grande orador sacro (a sua fama aproxima-o do padre António Vieira).
Bartolomeu de Gusmão evidenciou, ao longo da obra, uma profunda crise de fé, a que as leituras diversificadas e a postura "antidogmática" não serão alheios, numa busca incessante do saber.
A sua personagem risível - era conhecido por "Voador" - torna-o elemento catalisador do voo do passarola, conjuntamente com Baltasar e Blimunda.

 
A tríade corporiza o sonho e o empenho tornados realidade, a par da desgraça, também ela, partilhada (loucura e morte, em Toledo, de Bartolomeu de Gusmão, morte de Baltasar Sete-Sóis no auto-de-fé e solidão de Blimunda).

Caracterização da Blimunda Sete-Luas

Blimunda é o segundo membro do casal protagonista da narrativa. Mulher sensual e inteligente, Blimunda vive sem subterfúgios, sem regras que a condicionem e escravizem.
Dotada de poderes invulgares, como a mãe, escolhe Baltasar para partilhar a sua vida, numa existência de amor pleno, de liberdade, sem compromissos e sem culpa.
Blimunda representa o transcendente e a inquietação constante do ser humano em relação à morte, ao amor, ao pecado e à existência de Deus.
O seu dom particular (ecovisão, ou seja a capacidade de ver por dentro) transfigura esta personagem, aproximando-a da espiritualidade da música de Scarlatti e do sonho de Bartolomeu de Gusmão.  Ao visualizar a essência dos que a rodeiam, Blimunda transgride os códigos existentes e percepciona a hipocrisia e a mentira.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Caracaterização de Baltasar Sete-Sóis

Baltasar Mateus é um dos membros do casal protagonista da narrativa;
Representa a crítica do narrador à desumanidade da guerra, uma vez que participa na Guerra da Sucessão (1704-1712) e, depois de perder a mão esquerda, é excluído do exército;
Construído enquanto arquétipo da condição humana, Baltasar Sete-Sóis é um homem pragmático e simples, que assume o papel de demiurgo, o deus criador, na construção da passarola (ao realizar o sonho de Bartolomeu de Gusmão);
Participa na construção do convento e partilha, através do silêncio, a vida de Blimunda
Sete-Luas;
Sucumbe às mãos da Inquisição.

Caracterização D. Maria Ana Josefa

A rainha representa a mulher que só através do sonho se liberta da sua condição aristocrática para assumir a sua feminilidade. D. Maria Ana é caracterizada como uma mulher passiva e insatisfeita;
Que vive um casamento baseado na aparência, na sexualidade reprimida e num falso código ético, moral e religioso;
A transgressão onírica é a única expressão da rainha que sucumbe, posteriormente, ao sentimento de culpa. A pecaminosa atracção incestuosa que sente por D. Francisco, seu cunhado, conduzem-na a uma busca constante de redenção através da oração e da confissão - COMPLEXO DE CULPA;
A rainha vive num ambiente repressivo, cujas proibições regem a sua existência e para a qual não há fuga possível, a não ser através do sonho, onde pode explorar a sua sensualidade;
Consciente da virilidade e da infidelidade do marido (abundam os filhos bastardos);
D. Maria Ana assume uma atitude de passividade e de infelicidade perante a vida.



Caracterização de D. João V

Amante dos prazeres humanos, a figura real é construída através do olhar crítico do narrador, de forma multifacetada:
É o devoto fanático que submete um país inteiro ao cumprimento de uma promessa pessoal (a construção do convento, de modo a garantir a sucessão) e que assiste aos autos-de-fé;
É o marido que não evidencia qualquer sentimento amoroso pela rainha, apresentando nesta relação uma faceta quase animalesca, enfatizada pela utilização de vocábulos que remetem para esta ideia (como a forma verbal" emprenhou" e o adjectivo "cobridor");
É o megalómano que desvia as riquezas nacionais para manter uma corte dominada pelo luxo, pela corrupção e pelo excesso;
É o rei vaidoso que se equipara o Deus nas suas relações com as religiosas;
É o curioso que se interessa pelas invenções do padre Bartolomeu de Gusmão;
É o esteta que convida Domenico Scarlatti a permanecer em Portugal;
É o homem que teme a morte e que antecipa a sua imortalidade, através da sagração do convento no dia do seu quadragésimo primeiro aniversário.


Bartolomeu Lourenço de Gusmão

 Padre, inventor da Passarola.

Nasceu em Santos, Brasil, em 1685;
Morreu em Toledo, Espanha, em 1724.
Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685-1724), por antonomásia o Voador - como precursor da navegação aérea, nasceu em 1685, no Brasil (Santos), filho dum modesto cirurgião-mor de presídio, Francisco Lourenço, e de sua mulher, Maria Álvares.
Irmão mais velho do Dr. Alexandre de Gusmão, a quem o futuro reservaria uma carreira brilhante na diplomacia e política de D. João V, fez com ele seus estudos no Seminário Jesuítico da Baía, em que ambos foram discípulos dilectos do reitor, padre Alexandre de Gusmão, cujo nobre apelido ele consentiu que adoptassem desde a adolescência, na falta de mais condigno nome de família.
Por sua precoce inteligência e aplicação a estudos eclesiásticos, fez Bartolomeu de Gusmão no seminário o noviciado para padre jesuíta, de que em breve desistia, mas mantendo a disposição de se ordenar padre secular. Em 1701, o provincial da Companhia manda-o, com 16 anos, ao Reino, a completar os estudos, e muito impressionaram logo favoravelmente em Lisboa os seus conhecimentos profundos de casuística eclesiástica, bem como o vivo engenho em matérias de Matemática e Física Experimental. Quatro anos mais tarde voltava ao Brasil, e lá comprovava a extraordinária vocação para inventos mecânicos, com uma sua bomba hidráulica de elevação de água, cuja instalação ele próprio dirigiu, para fornecimento da do rio Paraguaçu ao seu antigo seminário da Baía, erguido no alto duma colina.
Voltava em 1708 definitivamente a Lisboa, porque, no seu destino de homem, o talento de inventor mecânico atrofiava-lhe o saber eclesiástico, pois trazia então em mente outros mais altos e audaciosos projectos, entre eles o de um aparelho, ou máquina voadora, baseado no velho princípio de Arquimedes acerca dos efeitos de impulsão dos fluidos sobre os corpos neles mergulhados.
Apresentado então na corte e recebido com o maior agrado pelo monarca, requeria-lhe e obtinha em 1709 o privilégio de exclusivo sobre o seu rudimentar aeróstato, depois apelidado, irónica e pitorescamente pelo vulgo, de Passarola. Em resumo, consistia o aparelho num grande balão esférico, de tela consistente, cheio de ar aquecido por estopa a arder na abertura da base, devendo erguer-se livremente na atmosfera, mais densa que o ar quente do balão, e, ao sabor do vento, deslocar-se, voar.
Realizou-se em Agosto a primeira experiência desde o alto do Castelo de S. Jorge, perante o rei e toda a corte. A experiência, como era de prever, foi infeliz, dada a improvisada técnica simplista. Pouco depois de efectivamente se ter erguido nos ares, o aparelho incendiou-se; confirmara-se, porém, na prática, a validez da teoria de base do princípio de Arquimedes para a navegação aérea, e é de crer que se tivessem repetido novas experiências, de que não houve notícia, embora houvesse ficado na tradição que uma nova Passarola, também lançada do Castelo, teria por fim descido intacta no Terreiro do Paço.
A glória dessa primazia viria a ser contestada nos fins do século, em França, por outro aeróstato do matemático e engenheiro francês Monge, aparelho do mesmo tipo, fundado na mesma teoria, e que, menos rudimentar, fora experimentado com mais êxito pelos irmãos Montgolfier, em 1794. Posteriormente, porém, tornou-se indiscutível em conferências várias, e mesmo num recente congresso internacional de aeronáutica, que ao inventor português se ficara devendo, como seu antecessor, a glória dessa conquista do espírito humano, a abrir na História Universal um novo capítulo de progresso de extraordinárias e imprevisíveis consequências científicas e tecnológicas, políticas e sociais.
Como de regra, as infelizes tentativas do autor da «Passarela» concitaram logo as invejas e vaias dos seus detractores, reforçados pelas suspeitas da Inquisição de que Bartolomeu, o Voador, teria tido pacto com o Diabo, sem que, todavia, essa torpeza fizesse decair Bartolomeu de Gusmão no conceito e apreço do Magnânimo, em cuja corte, aliás, seu irmão Alexandre gozava já de sólido prestígio como político e diplomata.
É, aliás, obscuro e confuso o curriculum vitae de Bartolomeu de Gusmão a partir da sua proeza aerostática. Sabe-se que, um tanto deprimido moralmente, os fracassos, decepções e embates da opinião pública o reconduziram às funções eclesiásticas, conquanto em seu espírito possivelmente não esmorecesse a imaginação inventiva para fins práticos.
Em 1710, obtinha privilégio do exclusivo de uma nova bomba hidráulica para esgotar água entrada nos porões das naus; mas, em 1713, talvez receoso do Santo Ofício, abandonou sem grandes recursos materiais o País, vagabundeando quatro anos por Holanda, França e talvez Inglaterra, mantendo-se a custo em ocupações modestas, mesmo a de ervanário em Paris, até se encontrar na Embaixada portuguesa com seu irmão Alexandre, então secretário da missão diplomática do conde da Ribeira. Com ele regressou a Portugal, e então, a expensas dele, se decidiu a completar seus estudos da Baía na Universidade de Coimbra, que em 1720 o doutorava com brilho em Cânones. No ano seguinte ordenava-se padre secular, notabilizando-se, elevado a cónego, como eloquente orador sacro. Por fim, elevou-o D. João V, em 1722, a fidalgo capelão-mor da Capela Real, e já nessa categoria foi como enviado extraordinário a Roma, incumbido de tratar com a Cúria pontifícia da obtenção dos ambicionados privilégios do monarca em benefício da Sé de Lisboa e seu alto Clero.
Nada, porém, tendo obtido o padre Bartolomeu de Gusmão em todo um ano de falhadas negociações, foi seu irmão Alexandre, em 1723, substitui-lo em Roma na difícil missão. No seu regresso ao Reino, porém, designou-o D. João V sócio efectivo da Academia Real de História, entre os 50 candidatos escolhidos, o que lhe valeu terem-lhe sido impressos, até 1721, os seus sermões e outras obras, em três volumes.
Em remate de tão desorbitada existência, pelo excesso de faculdades e inquietação de espírito, uma última desventura lhe estava tristemente reservada. Com efeito, no renovado convívio da corte, viu-se por fim envolvido com um irmão do rei, infante D. Francisco, numa tortuosa intriga, suspeita de escândalo, que o forçou em 1724 a de novo se expatriar escusamente por Espanha, em companhia de outro irmão seu, frei João Álvares, carmelita descalço. Adoecendo gravemente à chegada a Toledo, teve de recolher ao hospital, onde, apesar dos seus ainda robustos 39 anos, veio a morrer esgotado por tão intensa e desordenada vida de actividades e das mais díspares ocupações, efémeros êxitos, lutas, decepções, misérias e grandezas, em permanente insatisfação de espírito, que dia a dia lhe ia minando o rico potencial de vitalidade.
Obscuramente ficava sepultado numa campa rasa de Toledo o imortal precursor da navegação aérea, hoje insuperável glória da Humanidade.
 
Bartolomeu de Gusmão

segunda-feira, 28 de março de 2011

Bartolomeu Gusmão e a Inquisição


Viveu em Paris, trabalhando como ervanário para se sustentar, até que encontrou seu irmão Alexandre, secretário do embaixador de Portugal na França.Entre 1713 e 1716 viajou pela Europa. Em 1713 registou na Holanda o invento de uma “máquina para a drenagem da água alagadora das embarcações de alto mar” (patente que só veio a público em 2004 graças a pesquisas realizadas pelo arquivista e escritor brasileiro Rodrigo Moura Visoni). O padre Bartolomeu de Gusmão voltou a Portugal, mas foi vítima de insidiosa campanha de difamação. Acusado pela Inquisição de simpatizar com cristãos-novos, foi obrigado a fugir para a Espanha, no final de Setembro de 1724, com um seu irmão mais novo, Frei João Álvares, pretendendo chegar à Inglaterra.Segundo o testemunho que, mais tarde, João Álvares daria à Inquisição espanhola, Bartolomeu de Gusmão ter-se-ia convertido ao judaísmo, em 1722, depois de atravessar uma crise religiosa. O relato de João Álvares ao Santo Ofício, ainda que deva ser considerado com cautela, mostra, segundo Joaquim Fernandes, aspectos místicos, messiânicos e megalómanos do "padre voador". Em Toledo (Espanha), Bartolomeu adoece gravemente, recolhendo-se ao Hospital da Misericórdia daquela cidade, onde veio a falecer em 18 de Novembro de 1724, aos 38 anos. Antes de morrer, porém, confessou-se e recebeu a comunhão, conforme o rito católico, e assim foi sepultado na Igreja de São Romão, em Toledo. Foram feitas, ao longo de décadas, várias tentativas para localizar a sua tumba, o que só ocorreu em 1856. Parte dos restos mortais foi transportada para o Brasil e se encontra, desde 2004, na Catedral Metropolitana de São Paulo.




O reinado de D. João V

A MONARQUIA ABSOLUTA

   No início do século XVIII, na Europa, têm grande difusão as ideias que defendem o poder absoluto do rei (absolutismo), ou seja, o governo do país dependia da vontade do rei, que tinha todos os poderes e mandava cada vez mais.
   D. João V vai seguir esta tendência política, governando Portugal  como rei absoluto – Monarquia Absoluta. Durante o seu reinado, de 44 anos (1706 – 1750), nunca reuniu as cortes.
   Graças às grandes quantidades de ouro e diamantes que vinham do Brasil, a que se juntavam os lucros obtidos no comércio do tabaco, açúcar, vinho e sal, D. João V detinha uma grande riqueza, com a qual conseguia manter a nobreza debaixo do seu domínio ( distribuindo cargos, pensões e títulos), assim como enviava riquíssimas embaixadas a vários países. 


D Joao V


A VIDA NA CORTE


   A Corte vivia com muito luxo e ostentação.
   Entretanto, o povo vivia com muitas dificuldades: no campo, os que não emigravam para o Brasil continuavam a praticar uma agricultura de sobrevivência e tinham de pagar pesados impostos; na cidade, ocupavam-se das tarefas domésticas e de outro tipo de serviços como vendedores ambulantes, artesãos, criados, etc., não conseguindo obter grandes rendimentos.

UM TEMPO DE GRANDES CONSTRUÇÕES
   Durante o reinado de D. João V realizaram-se obras monumentais que reflectem a riqueza de que já falámos.

   É igualmente deste período a construção do Aqueduto das Águas Livres em Lisboa, da Igreja e Torre dos Clérigos, no Porto, da autoria de Nicolau Nazoni, da Biblioteca da Universidade de Coimbra e do Palácio de Queluz.

Aqueduto dás Águas Livres
Convento de Mafra
Biblioteca do Convento de Mafra
Igreja e Torre dos Clérigos
 
   Tal é o caso do Convento de Mafra, cuja construção se inicia em 1717 e só vai terminar em 1770. Os bailes, concertos, teatros e jogos divertiam e distraiam a Corte. Havia igualmente grandes banquetes.
   O rei dava festas esplêndidas e os nobres vestiam, de acordo com a moda francesa, trajes riquíssimos.



   Procurando imitar a vida da Corte, a nobreza vai construir palácios (os solares) um pouco por todo o país.

Biografia de José Saramago

José Saramago nasceu na aldeia ribatejana de Azinhaga, concelho de Golegã, no dia 16 de Novembro de 1922, embora o registo oficial mencione o dia 18. Seus pais emigraram para Lisboa quando ele ainda não perfizera três anos de idade. Toda a sua vida tem decorrido na capital, embora até ao princípio da idade madura tivessem sido numerosas e às vezes prolongadas as suas estadas na aldeia natal. Fez estudos secundários (liceal e técnico) que não pôde continuar por dificuldades económicas.
No seu primeiro emprego foi serralheiro mecânico, tendo depois exercido diversas outras profissões, a saber: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, editor, tradutor, jornalista. Publicou o seu primeiro livro, um romance ("Terra do Pecado"), em 1947, tendo estado depois sem publicar até 1966. Trabalhou durante doze anos numa editora, onde exerceu funções de direcção literária e de produção. Colaborou como crítico literário na Revista "Seara Nova".
Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do Jornal "Diário de Lisboa" onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante alguns meses, o suplemento cultural daquele vespertino. Pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de Escritores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi director-adjunto do "Diário de Notícias". Desde 1976 vive exclusivamente do seu trabalho literário.



Foto

segunda-feira, 21 de março de 2011

Este Blog foi criado no âmbito da disciplina de Português pelos alunos Ana,Sónia e João para  dar início ao estudo da obra "Memorial do Convento", de José Saramago.