segunda-feira, 4 de abril de 2011

O tempo

Tempo da história

1711- D. João V ainda não fizera 22 anos.
1717- bênção da 1º pedra do Convento de Mafra.
1730- 41º aniversario do rei; sagração do convento.
1739- Blimunda vê Baltasar a ser queimado, em Lisboa, num auto-de-fé; fim da acção.

A passagem do tempo é sugerida pelas transformações sofridas pelas personagens, por alguns espaços e objectivos ao longo da obra.

 O tempo discurso
    O narrador não respeita a ordem cronológica dos acontecimentos, por isso utiliza analepses ( recuos no tempo) e prolepses (avanços no tempo).

Espaço social

    -Procissão da Quaresma ( penitência física e mortificação da alma após os excessos de Entrudo; crítica às falsas manifestações de fé).
    -Autos-de-fé( perseguição de judeus, cristãos-novos e acusados de bruxaria pela inquisição; para o povo é um dia de festa; as mulheres exibem as toilette e entregam-se a jogos de sedução; é num auto-de-fé que Blimunda e Baltazar se conhecem.
    -Tourada ( tortura dos touros e desinibição dos assistentes)
    -Procissão do corpo de Deus ( crítica á forma como as pessoas vivem a religião; estas procissões eram momentos de histeria colectiva de pessoas que se batem a si próprias e aos outros).

Lisboa é um espaço caótico, dominado por rituais religiosos. A capital simboliza o espaço infecto, alimentado pelo ódio( aos judeus e cristãos-novos), pela corrupção da Igreja, pelo poder repressivo e hipócrita do Santo Oficio e pelo poder autociatico do rei.

    -O trabalho no convento (Mafra é o espaço de servidão desumana a que D. João V sujeitou todos os seus súbditos para alimentar a sua vaidade).
    - A miséria no Alentejo.
   - O cortejo real.

O espaço físico

      Lisboa:
         Terreiro do paço-local onde Baltasar trabalha num açougue,após a sua chegada a Lisboa.
         Rossio-espaço onde decorre os autos-de-fé
         S.Sebastião da Pedreira-espaço onde é construída a passarola

Mafra-local da construção do convento;local onde vivem os trabalhadores em péssimas condições.
Outros espaços: Pêro Pinheiro, Serra do Barregudo, Monte junto, Torres Vedras, Alentejo (espaço de miséria, de mendigos e de salteadores; também é o espaço por onde passa o cortejo para a casamento dos príncipes).
                        
Terreiro do Paço

Rossio

Convento de Mafra
 

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Caracterização do Povo

O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento é o povo trabalhador. Espoliado, rude, violento, o povo atravessa toda a narrativa, numa construção de figuras que, embora corporizadas por Baltasar e Blimunda, tipificam a massa colectiva e anónima que construiu, de facto, o convento.
A crítica e o olhar mordaz do narrador enfatizam a escravidão a que foram sujeitos quarenta mil portugueses, para alimentar o sonho de um rei megalómano ao qual se atribui a edificação do Convento de Mafra.
 A necessidade de individualizar personagens que representam a força motriz que erigiu o palácio - convento, sob um regime opressivo, é a verdadeira elegia de Saramago para todos aqueles que, embora ficcionais, traduzem a essência de ser português.

Caracterização do Domenico Scarlatti

Scarlatti representa a arte que, aliada ao sonho, permite a cura de Blimunda e possibilita a conclusão e o voo da passarola.

Caracterização do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão representa as novas ideias que causavam estranheza na inculta sociedade portuguesa.
Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmão tornou-se um alvo apetecido da chacota da corte e da Inquisição, apesar da protecção real.
Homem curioso e grande orador sacro (a sua fama aproxima-o do padre António Vieira).
Bartolomeu de Gusmão evidenciou, ao longo da obra, uma profunda crise de fé, a que as leituras diversificadas e a postura "antidogmática" não serão alheios, numa busca incessante do saber.
A sua personagem risível - era conhecido por "Voador" - torna-o elemento catalisador do voo do passarola, conjuntamente com Baltasar e Blimunda.

 
A tríade corporiza o sonho e o empenho tornados realidade, a par da desgraça, também ela, partilhada (loucura e morte, em Toledo, de Bartolomeu de Gusmão, morte de Baltasar Sete-Sóis no auto-de-fé e solidão de Blimunda).

Caracterização da Blimunda Sete-Luas

Blimunda é o segundo membro do casal protagonista da narrativa. Mulher sensual e inteligente, Blimunda vive sem subterfúgios, sem regras que a condicionem e escravizem.
Dotada de poderes invulgares, como a mãe, escolhe Baltasar para partilhar a sua vida, numa existência de amor pleno, de liberdade, sem compromissos e sem culpa.
Blimunda representa o transcendente e a inquietação constante do ser humano em relação à morte, ao amor, ao pecado e à existência de Deus.
O seu dom particular (ecovisão, ou seja a capacidade de ver por dentro) transfigura esta personagem, aproximando-a da espiritualidade da música de Scarlatti e do sonho de Bartolomeu de Gusmão.  Ao visualizar a essência dos que a rodeiam, Blimunda transgride os códigos existentes e percepciona a hipocrisia e a mentira.